Engenharia de cardápio: o que é?

Prática • set. 11, 2018

A engenharia de cardápio ou “menu engineering” é uma técnica básica, mas imprescindível que pode ajudar até na a longevidade dos restaurantes no Brasil que por sinal, é baixa.

Segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), em torno de 35% dos estabelecimentos gastronômicos do país fecham antes de completar 1 ano, 50% baixam as portas antes do segundo aniversário e apenas 3% ultrapassam uma década.

Quer entender como aplicar essa análise estratégica para elaborar o menu ideal e alavancar seus resultados? Então, continue conosco!

Breve histórico da engenharia de cardápio

Desenvolvida em 1982 pelos pesquisadores Michel Kasavanas e Donald Smith, da School of Hospitality Business da Universidade de Michigan (EUA), a engenharia de cardápio consiste no estudo aprofundado de lucratividade, popularidade e custo relativo dos itens que compõem o menu, no intuito de elevar o ticket médio da casa e alinhar-se com maior precisão aos interesses de seu público-alvo.

Além do estudo dos custos, essa técnica utiliza-se de métodos de análise sensorial para definir as fotos, as descrições e até mesmo o posicionamento dos itens na carta de ofertas. Há estudos que indicam, inclusive, que essa metodologia pode ampliar os lucros da empresa em mais de 70%.

Evolução dos modelos de engenharia de cardápio

Um dos primeiros modelos dessa engenharia era também bastante simples, constituindo a base para compreender essa abordagem nos dias de hoje. Ele visava à criação de uma matriz de 4 quadrantes para classificar os pratos em uma linha contínua, que ia do fracasso absoluto (loser) ao sucesso incontestável (winner).

De forma muito semelhante à Matriz BCG (ligada à análise de portfólio de produtos), você poderia dividir seu menu em:

  • Stars (estrelas) — destinado a abrigar as opções mais pedidas e, concomitantemente, as que trazem maior percentual de lucratividade ao estabelecimento ;
  • Plowhorses (burros de carga) — embora tenham boa saída, são pratos que não oferecem tanta lucratividade;
  • Puzzles (quebra-cabeças) — itens que não desfrutam de grande prestígio junto aos consumidores, mas que, ao serem comercializados, geram alta lucratividade;
  • Dogs (cães) — são os chamados losers, pratos com baixa demanda e lucratividade ainda menor (e que, portanto, devem ser eliminados do cardápio).

A partir desse modelo embrionário, as técnicas de análise de cardápio foram se aperfeiçoando, agregando novas variáveis para mensuração de valor.

Recentemente, a pesquisadora Carola Raab , da Universidade de Nevada (EUA), relacionou a rentabilidade de cada prato a questões mais profundas (operacionais e financeiras), como peso da matéria-prima no lucro líquido, dispêndio indireto da preparação dos pratos , centro de custos, entre outros fatores correlatos. Chegamos então ao entendimento atual da engenharia de menu.

Como aplicar a engenharia de cardápio em sua estratégia de aumento de vendas?

Ao longo dos anos, inúmeras estratégias de cardápio foram desenvolvidas. Todavia, o modelo mais aceito e utilizado atualmente pelos melhores restaurantes do mercado mundial se apoia em um processo de 4 fases: aplicação visual, índice de vendas, centro de custos e controle/manutenção. Vamos ver do que se trata cada uma dessas etapas.

1. Aplicação visual

O primeiro passo para montar um cardápio bem-sucedido é categorizar seus itens de acordo com as 4 opções acima relatadas (Stars, Plowhorses, Puzzles e Dogs). Essa consciência dos pontos fortes e fracos do negócio vai ajudar você a entender o melhor layout e a mais perfeita linguagem de comunicação visual com seus clientes.

Mas como saber qual é o prato mais rentável? O mais compensador? O que deve sair da carta? Basta conhecer o custo de produção e o custo de venda, certo? Errado.

É preciso manejar mais profundamente esses dados para desenvolver uma engenharia de cardápio vencedora. Por exemplo, imagine que você tenha, entre suas sugestões, lasanha à bolonhesa e estrogonofe de frango. Vamos simular o seguinte cenário:

Lasanha à bolonhesa

  • Preço de venda: R$ 40,00
  • Custo total: R$ 20,00
  • Lucro bruto por prato (R$): R$ 20,00
  • Volume médio de vendas/mês: 80 pratos (R$ 1.600,00 de lucro bruto total)

Estrogonofe de frango

  • Preço de venda: R$ 57,00
  • Custo total: R$ 40,00
  • Lucro bruto por prato (em R$): R$ 17,00
  • Volume médio de vendas/mês: 100 pratos (R$ 1.700,00 de lucro bruto total)

Perceba que, a princípio, um gestor desatento poderia entender, apenas olhando o lucro bruto por prato, que a lasanha à bolonhesa é mais lucrativa ao restaurante do que o estrogonofe de frango. Todavia, quando analisamos a margem bruta total (avaliando também o volume de vendas por mês), fica clara a superioridade deste último item em termos de rentabilidade.

De posse dessas informações (levantadas em todo o seu menu), você estará apto a separar cada prato de acordo com as 4 opções (Stars, Plowhorses, Puzzles e Dogs) básicas da engenharia de cardápio. Ter essa visão global é o passo fundamental para elaborar estratégias inteligentes de layout e chamamento aos seus produtos mais interessantes. Passemos à próxima etapa.

2. Índice de vendas

Uma vez que tenha as informações acima, você pode materializá-las através de fichas técnicas de custos (que podem, inclusive, ficar expostas em locais específicos para visualização de todos os funcionários).

As fichas técnicas de custos têm o objetivo de concentrar o máximo de dados possíveis sobre os custos e o lucro de cada prato. Aqui você também pode elaborar gráficos para confrontar duas questões essenciais: a margem de lucro individual de cada prato (rentabilidade) e a demanda mensal (popularidade) deste. Trata-se de mais conhecimento que será agregado para, no final, nortear o desenho de seu menu.

3. Centro de custos

Na fase de estudo do centro de custos, você deverá ter em mãos a ficha técnica financeira, a ficha técnica de preparo (contendo dados como fotos do produto, tempo de cozimento, recomendações de armazenamento e ingredientes), além da separação de cada categoria do cardápio (entrada, prato principal e sobremesa) dentro dos 4 critérios destacados acima.

Por fim, após a agregação de todo esse know-how, é possível partir efetivamente para o layout em sua engenharia de cardápio. Confira algumas dicas com relação a esse momento:

  • diversas pesquisas da área de psicologia do consumidor sinalizam que os clientes tendem a visualizar prioritariamente o que está escrito no topo ou no canto superior direito das páginas;
  • a descrição dos pratos deve vir em destaque, com fixação dos preços na outra ponta da página. O objetivo, com isso, é que o consumidor escolha as sugestões de acordo com suas características e não segundo o preço;
  • preços não devem ser acompanhados do cifrão (símbolo que remete diretamente ao custo, podendo impactar negativamente na decisão de compra);
  • itens de maior lucratividade do cardápio devem vir em destaque, cercado por molduras ou em cores diferentes, acompanhados de descrições que denotem sua diferenciação, tais como “especial”, “do chef”, “premium” etc.

4. Controle/manutenção

A elaboração do cardápio é um processo incremental, ou seja, passível de ser redesenhada permanentemente na medida em que haja mudanças nas inclinações e interesses de seus consumidores.

Dessa forma, faça pesquisas físicas junto aos seus clientes; reúna seus garçons para obter suas impressões acerca do desempenho do menu; faça um trabalho de engajamento em redes sociais, premiando os clientes que se manifestarem sobre seus pratos.

Todas essas ações são necessárias para deslocar inteligentemente seus produtos no campo visual da carta de opções, retirando combinações menos rentáveis e inserindo as que tenham maior potencial de fidelização e lucratividade.

Gostou deste conteúdo? Veja mais detalhes sobre este mesmo tema  e também como calcular o índice de cocção dos alimentos. Sucesso e até a próxima!

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O design é uma disciplina que envolve a criação, planejamento e execução de soluções para resolver um problema ou atender a uma necessidade específica. Ele abrange uma ampla variedade de campos e pode ser aplicado a produtos, serviços, ambientes, comunicações e interações. Não se limitando apenas à estética visual, embora isso seja uma parte importante. Ele também considera a funcionalidade, usabilidade, ergonomia e a experiência geral do usuário. O processo geralmente envolve a pesquisa, concepção, prototipagem, testes e implementação. Ele está em diversos aspectos da vida cotidiana, desde a embalagem de produtos que compramos até a interface de aplicativos que usamos e ele pode ser também aplicado nas padarias. Confira nosso conteúdo a seguir e aprenda mais sobre o assunto. Quais os princípios do design? Equilíbrio Simétrico: Distribuição equitativa de elementos de forma semelhante de ambos os lados de um eixo central. Assimétrico: Distribuição equilibrada de elementos visuais sem depender da simetria. Contraste Criação de diferenças visuais entre elementos, como cor, tamanho, forma ou textura, para destacar ou enfatizar. Alinhamento Posicionamento cuidadoso de elementos para garantir uma disposição ordenada e organizada. Repetição Utilização de padrões repetitivos para criar consistência e coesão visual. Ênfase Destaque de elementos importantes para chamar a atenção do espectador. Proporção Relação harmônica entre diferentes partes de um design, contribuindo para uma estética equilibrada. Hierarquia Organização visual de elementos para indicar a importância ou a ordem de leitura. Espaço Gerenciamento eficaz do espaço negativo e positivo para melhorar a legibilidade e a compreensão. Simplicidade Eliminação de elementos desnecessários para criar designs claros e diretos. Coesão Relacionamento visual entre elementos para garantir que o design funcione como uma unidade integrada. O Design aplicado às padarias Ao contrário do que se pensa, estas técnicas não se reservam apenas a projetos de grandes arquitetos mas podem ser perfeitamente aplicadas a todos os negócios e tanto a sua identidade quanto Atração Visual: quando bem pensado pode atrair a atenção, tornando a padaria mais convidativa e aumentando o potencial de atração de novos clientes. Identidade Forte: uma aplicação consistente com logotipos, esquemas de cores e outros elementos que distinguem a padaria no mercado. Experiência do Cliente Aprimorada: um design cuidadoso não se limita apenas à estética, mas também à experiência geral do cliente. Facilidade de Navegação: facilita a navegação dos clientes pela padaria. Isso pode resultar em uma experiência de compra mais agradável e eficiente. Destaque de Produtos: pode ser usado para destacar produtos específicos, promovendo itens. Isso pode influenciar as decisões de compra dos clientes. Credibilidade e Profissionalismo: quando bem executado transmite uma imagem de profissionalismo e atenção aos detalhes, o que pode aumentar a credibilidade. Diferenciação no Mercado: a aplicação eficaz dos princípios pode diferenciar a padaria de seus concorrentes, ajudando-a a se destacar e conquistar uma parcela do mercado. Comunicação Eficaz: sinalizações claras e comunicação visual, facilitam a transmissão de informações, promoções e ofertas especiais. Cuidados com design na padaria Excesso de móveis Estes não devem comprometer o espaço e a circulação dos clientes, e no caso de mesas e cadeiras, devem ser suficientes para acomodá-los. Paisagismo Se há uso de plantas e jardins naturais, estes devem ter rega, limpeza e manutenção constante para permanecerem bonitos. Uso de buffets Estes não devem "roubar" espaço e não prejudicar a circulação. Precisam ser dimensionados conforme a demanda e variedade do cardápio. Mesas e cadeiras extras Havendo falta, reavalie o espaço, remova itens e outros móveis, e disponibilize local para mais destas. Afinal, o cliente é mais importante. Manutenção de fachada Faça limpeza e manutenção periódica da fachada. Iluminação, comunicação visual, contatos, tudo deve estar visível. Exposição de materiais embaixo do balcão Embora possa ser visto como economia e aproveitamento de espaço, prefira manter materiais e embalagens guardados. Iluminação O propósito desta é tornar seu ambiente e produtos visíveis. Reveja o uso desta como decoração. Ademais, ela consome energia elétrica também. Tente usar mais luz natural nos seus projetos. Fotos e imagens Todas as fotos de produtos e decorativas devem estar em bom estado e atualizadas. Dê preferência às de seus próprios produtos. Freezers e geladeiras Devem estar posicionados estrategicamente aos produtos relacionados e ser suficientes para os produtos desejados. Itens e elementos decorativos Devem estar de acordo com o estilo do estabelecimento e não em excesso, desviando a atenção de seus produtos. Os sazonais devem ser removidos assim que passarem as datas comemorativas. Conveniência Concentre-se em itens que vendem juntamente com seus produtos e atendam à demanda dos clientes. Pisos Fique atento ao tipo, limpeza diária e conservação. Sempre que houver danos, programe a manutenção ou troca. Vitrines Estas precisam ser suficientes para variedade de produtos e repostas continuamente. Vitrine vazia não vende. Foco no produto O foco é a venda do que é produzido na padaria. Evite produtos e serviços que não complementem ou não vendam seus produtos. Frente de loja Um conceito que tem auxiliado as padarias, confeitarias e outros empreendimentos do ramo de alimentação é o uso de fornos vitrine na área de vendas. O objetivo desses equipamentos é assar produtos em menor quantidade, mas constantemente e com variedade. Dessa forma, seus clientes verão que há produtos frescos saindo a todo momento, e o aroma de pão é irresistível. Além disso, muitas pessoas desconhecem a fabricação do pão e, mesmo para aqueles que já conhecem, é muito atrativo, e sua padaria certamente chamará a atenção. Outro ponto positivo é que ao assar produtos em menores quantidades, eles se mantêm frescos e ocorre menor desperdício por itens que são assados além do necessário. Sobram, perdem a qualidade gradativamente e, depois, devem ser descartados. Conclusão Em síntese, ao considerarmos a importância do design nas padarias, compreendemos que a estética e a funcionalidade desempenham papéis cruciais na atração e fidelização de clientes. Desde a disposição dos produtos até a escolha de equipamentos como fornos vitrine, o design influencia diretamente na experiência do consumidor. A harmonia visual aliada à praticidade operacional não apenas agrega valor à padaria, mas também cria uma atmosfera convidativa. A implementação cuidadosa do design não só destaca a frescura e a variedade dos produtos, como também reduz desperdícios, promovendo a sustentabilidade no processo. Assim, ao reconhecermos a relevância do design, as padarias não apenas aprimoram seu apelo estético, mas também otimizam operações, conquistando clientes e assegurando um espaço distintivo no mercado gastronômico. E agora que tal aplicar os mesmos conceitos com na exposição de produtos? Clique aqui e veja nosso conteúdo sobre o vitrinismo. 
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