Como assar pão de queijo crocante, leve e irresistível

Prática • 4 de novembro de 2025

O pão de queijo é um produto de alto giro e excelente margem no setor de alimentação fora do lar.


Sua qualidade final, entretanto, não depende apenas da formulação ou do fornecedor: o assamento é o fator decisivo para determinar volume, textura, crocância da casca, estrutura do miolo e aceitação do consumidor.


Entenda por que o pão de queijo cresce e o que acontece no forno.


Aprenda práticas de assamento que garantem qualidade, padronização e bons resultados.


Como o pão de queijo cresce?


O crescimento do pão de queijo não se assemelha ao do pão com fermento biológico nem ao do bolo com fermento químico.


Pão com fermento biológico (ou levain)


O aumento de volume é causado por microrganismos (leveduras e, no caso do levain, também bactérias lácticas) que metabolizam açúcares e liberam gás carbônico.


Esse gás é retido pela rede de glúten, expandindo lentamente a massa até que o calor do forno consolide a estrutura.


Bolo com fermento químico


A expansão ocorre pela reação entre bicarbonato e ácidos, que em contato com umidade e calor liberam gás carbônico de forma imediata.


A incorporação de ar no batimento e a coagulação das proteínas dos ovos são fundamentais para sustentar as bolhas formadas.


Como o pão de queijo cresce


No pão de queijo, o mecanismo é distinto.


O agente responsável é o polvilho azedo, fécula de mandioca fermentada e seca cujo amido foi parcialmente modificado.


Essa modificação confere ao amido capacidade de inchar intensamente na presença de calor e umidade, gerando uma massa elástica que retém o vapor de água liberado.


Ovos e queijo contribuem com proteínas que, ao coagular, formam uma rede estrutural que estabiliza o volume até a conclusão do assamento.


Resumo do mecanismo:


  • Elasticidade: proporcionada pelo amido modificado do polvilho azedo.
  • Força de expansão: vapor de água proveniente do leite, dos ovos e da própria massa.
  • Estabilização: proteínas dos ovos e do queijo que coagulam e sustentam a estrutura.


O que ocorre no forno


O processo pode ser descrito em quatro fases:


  1. Aquecimento inicial: a água presente nos ingredientes inicia a evaporação; o vapor expande e gera bolhas.
  2. Ação do polvilho azedo: o amido modificado absorve umidade, incha e mantém a elasticidade necessária para acompanhar a expansão.
  3. Formação da rede proteica: as proteínas dos ovos e do queijo desnaturam com o calor, constituindo uma malha que retém os gases.
  4. Fixação da estrutura: a casca seca, o miolo se estabiliza e o produto adquire formato e textura finais.


Dicas de assamento


As seguintes recomendações operacionais asseguram padronização e qualidade:


Pré-aquecimento adequado


Trabalhar, em geral, entre 150 °C e 160 °C.


Pré-aqueça o forno cerca de 20 °C acima da temperatura de assamento para compensar a perda térmica ao abrir a porta.


Escolha das assadeiras


Utilizar assadeiras de alumínio, que conduzem e distribuem melhor o calor.


O inox tende a superaquecer o fundo, prejudicando a base do produto. 


Em fornos combinados, utilize assadeiras gastronorm de alumínio ou coloque-as sobre grelhas de inox apenas como suporte.


Distribuição uniforme


Posicionar os pães de queijo com espaçamento regular, prevenindo aderência e deformações.


Unte corretamente


Preferir margarina, gordura vegetal ou desmoldante profissional.


Evitar óleo de soja, que compromete a coloração e pode carbonizar a assadeira.


Gramatura uniforme por fornada


Padronizar o peso dos produtos assados simultaneamente para não haver diferenças de tempo de cocção.


Respeito ao tempo de assamento


  • 15–30 g → 25–30 minutos
  • 30–50 g → 35–45 minutos
  • Acima de 50 g → 45–55 minutos


Não abrir a porta do forno


A perda de temperatura interrompe o crescimento.


Não girar assadeiras


Ao abrir o forno há perda de temperatura e a movimentação pode comprometer produtos ainda em expansão.


Se houver irregularidade, revisar pré-aquecimento e posicionamento.


Evitar zonas de calor excessivo


Não posicionar assadeiras junto a resistências ou áreas naturalmente mais quentes.


Avaliar o ponto real de cocção


Mesmo dourado, o pão pode estar cru internamente.


Recomenda-se reduzir a temperatura nos minutos finais para secar e conferir crocância.


Assar apenas pão de queijo por ciclo


Misturar produtos com perfis diferentes prejudica o resultado.


Tipo de forno


Fornos turbo são os mais indicados pela uniformidade; fornos de lastro permitem controlar o acabamento.


Teor de queijo na formulação


Receitas mineiras, mais ricas em queijo, exigem maior tempo de forno para formar casca crocante e dourada.


Assar em lotes menores e contínuos


Manter o produto quente preserva qualidade sensorial e favorece a aceitação.


Manter vitrine organizada


Exposição uniforme transmite cuidado e reforça a atratividade.


Valorizar o aroma


O cheiro de pão de queijo recém-assado é fator de atração; planeje fornadas em horários de maior fluxo.


Investir em fornos confiáveis


Priorizar modelos com bom isolamento térmico e controle preciso de temperatura, assegurando produtividade e padronização.


Capacidade do forno


Dimensionar o equipamento conforme a demanda do ponto de venda.


Fornos domésticos não atendem padrões de qualidade nem de volume.


Padronização


Estabelecer procedimentos operacionais claros e treinar a equipe para garantir consistência em todas as fornadas.


Parâmetros de referência


  • Temperatura de assamento: 150–160 °C
  • Pré-aquecimento: temperatura de assar + 20 °C
  • Tempo médio por gramatura:
  1. 15–30 g → 25–30 min
  2. 30–50 g → 35–45 min
  3. Acima de 50 g → 45–55 min
  • Assadeiras: alumínio (preferencialmente)
  • Para untar: margarina, gordura vegetal ou desmoldante profissional
  • Porta do forno: não abrir durante o ciclo


Esses números são pontos de partida.


Cada forno e formulação podem exigir ajustes mediante testes controlados.


Estratégia comercial


  • Forno dedicado: evita conflitos de perfil térmico e facilita treinamento.
  • Horários de maior fluxo: planeje fornadas estratégicas para potencializar aroma e vendas por impulso.
  • Exposição organizada: display abastecido e quente reforça percepção de frescor e valor.
  • Diferenciação por queijo: comunique receitas com maior teor de queijo como diferencial competitivo.


Checklist POP (Procedimento Operacional Padrão)


  1. Conferir forno limpo e ligado.
  2. Pré-aquecer: temperatura de assar + 20 °C.
  3. Untar assadeiras de alumínio.
  4. Organizar pães de queijo com espaçamento regular.
  5. Trabalhar apenas com mesma gramatura por fornada.
  6. Inserir, ajustar temperatura e iniciar contagem.
  7. Não abrir a porta até o tempo mínimo.
  8. Verificar ponto real de cocção.
  9. Retirar, descansar brevemente e expor na vitrine.
  10. Programar próxima fornada em ciclo contínuo.
  11. Registrar parâmetros em ficha para padronização.


Conclusão


Assar pão de queijo com qualidade requer técnica, disciplina e padronização.


Entender a ciência por trás do crescimento, aplicar boas práticas de assamento e investir em equipamentos adequados são passos fundamentais para entregar ao cliente um produto estável, crocante e saboroso.


Quando somados a estratégias de exposição e treinamento de equipe, esses cuidados transformam cada fornada em um diferencial competitivo e em oportunidade concreta de fidelização e aumento de vendas.


Veja também nosso conteúdo sobre a história do pão de queijo.