Desvendando o mundo do café com Carmem Lúcia Chaves de Brito

“O café é um atrativo. Se você está com amigos, andando na rua e vê um local que oferece café, você vai se sentar." Estas são palavras da nossa entrevistada de hoje, Carmem Lúcia Chaves de Brito.

Ela é presidente da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) e diretora executiva das Fazendas Caxambú e Aracaçu em Três Pontas (MG), e recentemente conquistou o Prêmio 100 Mais Influentes do Agronegócio 2024.

Neste dia 24 de maio, celebramos o Dia Nacional do Café, data que marca o início da colheita nas principais regiões cafeeiras do país, instituída pela Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC) em 2005.

Por isso, conversamos com quem é do ramo para aprender mais sobre esta bebida que faz parte do cardápio de muitos empreendimentos da área de alimentação. Confira.

1 - Qual é a posição do Brasil no cenário mundial do café?

O Brasil é uma potência no mundo do café, destacando-se não apenas como o maior produtor e exportador global, e o segundo maior consumidor, perdendo apenas para os EUA. Com suas diversas regiões produtoras, o país oferece uma variedade impressionante de perfis sensoriais que encantam o mundo.

Além disso, a cafeicultura brasileira é reconhecida por sua sustentabilidade e seu impacto social positivo, distribuindo renda e proporcionando oportunidades. O setor investe em inovação e tecnologia, visando uma produção cada vez mais eficiente e ambientalmente responsável.

O Brasil é líder na produção de cafés especiais, prontos para conquistar mercados internacionais, mostrando que o país não só exporta a bebida, mas também expertise e tecnologia.

2 - Qual é a proposta das Fazendas Caxambú e como é o trabalho delas em conjunto com o mercado do café?

A nossa proposta é estar aqui pensando nos nossos clientes e consumidores. Entender quais são os movimentos do mundo, para onde vai em relação ao consumo e aos sonhos com o café, para que possamos nos movimentar junto.

Estamos aqui para entender a alma dos grãos de café, para que possamos expressá-la nas xícaras de café. Entendemos isso no passado e não queríamos entregar apenas produto, mas valor e nossa história de vida.

Queremos entregar rostos, nomes e não apenas pontuação, uma nota dada ao café. Seguimos isso sistematicamente, mas isso é apenas uma obrigação, nós queremos entregar uma cafeicultura de baixo impacto, para as futuras gerações.

3 - Qual é o papel da BSCA - Associação Brasileira de Cafés Especiais?

Desde sua fundação, a BSCA tem sido uma importante porta de entrada para os cafés brasileiros no mercado global. Enquanto o Brasil era reconhecido como um produtor de commodity, a instituição surgiu com a missão de destacar o potencial dos cafés especiais produzidos no país.

Essa mudança de paradigma foi impulsionada por um grupo de produtores que viu a oportunidade de agregar valor aos cafés brasileiros, antes reconhecidos principalmente pelo seu volume.

A BSCA tornou-se então uma ponte entre os produtores e os grandes importadores, buscando mostrar ao mundo que o Brasil não só produz commodities, mas também cafés de qualidade excepcional.

5 - Quais são seus conselhos para escolher um bom café para negócios da alimentação?

Meu conselho para as pessoas é que, se você é dono de uma padaria ou outro empreendimento da alimentação, a primeira coisa é entender o perfil da clientela.

O que essas pessoas conseguiriam encontrar ali? E uma vez entendido isso, é buscar um produto para agradar, encantar e satisfazer os desejos do seu cliente e buscar nos diversos canais que existem onde está aquele produto que melhor irá se adequar.

O Brasil, por esta infinidade de ofertas, tem para todos os gostos, é democrático demais. Agora, eu sempre acho que nós precisamos elevar os padrões. Acho que devemos ter muito respeito pelo nosso cliente e, no meu entendimento, isso é entregar para ele sempre algo surpreendente.

Entregar o que ele gosta, mas tentar entregar algo mais. E a gente pode. O Brasil tem esse produto fantástico.

O empreendedor é o grande responsável por essa mudança de percepção do consumidor. Construir relacionamentos com os empreendimentos, seja uma cafeteria, uma padaria. Gosto muito dessa coisa de encurtar as distâncias.

Se o dono do negócio conhece o produtor, sem sombra de dúvidas ele tem condições de entregar o melhor produto. Ele vai ter história para contar, vai encantar aquele cliente. E isso é fantástico. Você está ali para fazer diferença e se você cuida do seu cliente, você dá uma sustentabilidade maior para seu negócio.

Mostre para seu cliente que você se preocupa com ele e você fala que aquilo que você está servindo faz diferença no mundo, você consegue sustentabilidade com essa ponte. Nós estamos vivendo num mundo cada vez mais ávido por essas coisas.

6 - Quais são suas dicas, como produtor, para preparar um bom café nos estabelecimentos?

No mundo do vinho, por exemplo, ou de qualquer outra bebida que é entregue em uma garrafa pronta para consumo, é muito mais fácil para o produtor entregar ao consumidor final uma boa bebida que ele preparou.

Porém, no mundo do café, a situação não é tão simples, porque não entregamos a bebida pronta. Aqui, no setor de produção, entregamos o grão. Nós plantamos e cuidamos o tempo todo para que ele não perca sua essência sensorial.

Mas depois, só o entregamos para um torrador, e se ele não realizar a melhor curva de torra para esse grão, você pode perder todo o esforço, dedicação e carinho que o produtor investiu nele.

Além disso, esse grão pode se perder um pouco mais no momento do preparo da bebida. Vamos imaginar que o produtor cuidou de tudo e que um bom torrador fez um excelente trabalho, mas na hora de preparar a bebida, alguém o faz de forma inadequada.

Por exemplo, utilizou água com temperatura muito elevada, o que poderia acabar quebrando as cadeias de moléculas de cafeína e levando a muito amargor na bebida, uma vez que extraiu um teor muito grande de cafeína, ou ainda, não realizou um fluxo de água adequado no momento da extração. São muitos fatores que se somam.

4 - O café é apenas uma bebida ou também serve como canal de vendas para outros produtos, como bolos, tortas, salgados, sanduíches e outras opções?

O café é um atrativo. Não é o produto que vai gerar mais lucro no negócio, mas é o grande atrator. Se você está com amigos, andando na rua e procurando um lugar para se sentar, fazer negócios, conversar sobre a vida, ou reunir pessoas, e vê um local que oferece "café", você vai se sentar.

Você vai para esse lugar para tomar um café e naturalmente ele vai atrair outras coisas. Você vai harmonizá-lo com alguma comida gostosa, um pão delicioso diferenciado, um queijo saboroso, um bolo, ou qualquer outra coisa que esteja disponível para oferecer.

Na verdade, o que vai proporcionar uma rentabilidade maior não é nem o café em si, mas sim o fato de ele atrair. Ele reúne pessoas e estas consumirão outros produtos.

Sobre Carmem Lúcia Chaves de Brito, a “Ucha”

Carmem Chaves de Brito, a UCHA, tem sua vida entrelaçada com o café desde a infância na fazenda familiar em Minas Gerais. Após anos longe, retornou para honrar o legado paterno. Em meio à perspectiva de dividir a fazenda entre os irmãos, ela optou por unir a família em torno da produção de cafés especiais, valorizando o produto e pessoas envolvidas.

Liderando a transição para os cafés especiais, UCHA buscou agregar valor não apenas ao produto, mas às vidas das comunidades rurais. Investindo em capacitação e formação, ela fortaleceu laços e deixou uma marca emocional duradoura. Sua dedicação ao café transcendeu os aspectos comerciais.

O trabalho de Ucha não apenas fortalece suas propriedades, mas também eleva o padrão da produção cafeeira nacional, evidenciado pelo recente título mundial conquistado por Dionatan de Almeida, provador das fazendas de Ucha, no World Cup Tasters Championship em Chicago.

Instagram: @caxambuearacacucoffee

Sobre a BSCA

A história do café no Brasil evoluiu significativamente ao longo dos séculos, culminando no surgimento dos cafés especiais e na fundação da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) em 1991. Ela se destaca como impulsionadora da qualidade e sustentabilidade na produção cafeeira, certificando e participando ativamente de eventos globais para seus associados.

Os cafés especiais, reconhecidos por sua qualidade excepcional e práticas sustentáveis, são o foco central da BSCA, que conta com uma variedade de associados, desde produtores até torrefações e cafeterias.

Ao obter o selo de qualidade da BSCA, os produtores agregam valor aos seus produtos, enquanto eventos internacionais e programas educacionais oferecem oportunidades de aprendizado e networking para os membros, consolidando a BSCA como uma líder na promoção dos cafés brasileiros de alta qualidade globalmente.



Instagram: @bsca_specialtycoffee