Glúten: o que é e qual sua importância na panificação
Prática • 7 de novembro de 2022
O glúten é uma proteína
formada por outros dois componentes, a gliadina
e a glutenina
, presentes nos grãos do trigo, que conferem extensibilidade, elasticidade e resiliência à massa, propriedades essenciais na produção de pães.
Embora segundo estimativa da OMS – Organização Mundial da Saúde, 1% da população mundial seja celíaca, o glúten está presente na maioria dos pães, sendo uma das principais fontes de carboidratos e energia da humanidade, desde as primeiras civilizações (aproximadamente 6.000 anos).
Por esta razão, na postagem a seguir abordaremos sobre o assunto.
Propriedades do glúten
Estas mudam de acordo com a variedade do trigo
, condições de cultivo, procedência, safra e métodos de moagem da farinha e sua combinação com outros grãos com características diferentes, que complementam possíveis deficiências, ou para atender necessidades específicas.
Vejamos algumas das principais:
Extensibilidade: faz com que a massa possa ser estendida até um determinado ponto;
Elasticidade: nível em que a massa pode retornar a sua forma anterior;
Resiliência: até que ponto ela pode suportar ser extendida sem se romper;
Capacidade de absorção de água: juntamente com demais componentes da farinha (amidos, fibras etc.), é uma característica de suma importância para panificação porque impacta no rendimento (Kg de produto versus
Kg de farinha)
Forte:
com alto teor de glúten e utilizada na produção de macarrão mas também de alguns pães;
Média:
com teor médio de glúten e amplamente utilizada na panificação;
Fraca:
tem baixo teor de glúten e utilizada da produção de bolos, bolachas e biscoitos. É a mais comum nos supermercados para uso doméstico.
Por que o glúten é tão importante na panificação?
Retém os gases da fermentação:
sem ele, o pão não cresceria, ficando “murcho” e achatado.
Permite a divisão e modelagem:
ele é que possibilita fazer os diferentes formatos de pães.
Suporta a fermentação longa:
sua resistência permite longas horas de fermentação (acima de 6 horas), especialmente para as massas com levain
ou com baixa quantidade de fermento.
Favorece a formação de grandes alvéolos
: critério de qualidade, especialmente dos pães de fermentação natural e longa ou baixo teor de fermento.
Dá casca crocante:
com umidificação (vapor) atende este tópico desejável de qualidade, muito apreciada pelo consumidor final em produtos específicos.
Boa “pestana”:
casca protuberante e proeminente que se forma ao assar o produto e que em farinhas com bom teor de glúten, é pronunciada.
Estabilidade do miolo:
através de processos corretos, o pão resultante pode ser cortado e fatiado, mantendo suas estruturas internas e externas, sem se “esfarelar”.
Durabilidade do produto:
quando processado e armazenado em condições ideais e dentro do limite de sua validade, preserva sua estrutura.
“Ponto-de-Véu”
Trata-se do ponto ideal em que a cadeia de glúten está bem formada e a massa pode ser estendida, sem se romper, até uma “película” fina. Dessa forma, os gases resultantes da fermentação ficam retidos no pão, fazendo com que se desenvolva. Além disso, permite a divisão, modelagem, descansos da massa conforme receita, sem prejudicar a qualidade do produto final.
O que prejudica o glúten e a formação do “ponto de véu”?
Má armazenagem da farinha:
empilhamento excessivo dos sacos, ambientes quentes, secos ou úmidos demais, fazem com que a farinha perca suas características desejáveis.
Água em temperatura ambiente
: dificulta a formação da rede de glúten, deixando massa pegajosa e induzindo fermentação precipitada.
Amassadeiras inadequadas:
a conformação do eixo com o tacho, pode dificultar o desenvolvimento do glúten, elevar a temperatura da massa, fazendo com que fermente antes do tempo desejado, além das baixas homogeneização e absorção de umidade (hidratação).
Exceder o tempo de batimento:
o atrito da massa com o eixo e o tacho elevam a temperatura da massa, por isso fique atento e conte com equipamentos que automatizem e padronizem essa fase.
Descansos despadronizados:
quando feitos além do tempo máximo conforme características do trigo, ambiente e receita, fazem com que a massa fermente e torne-se pegajosa, dificultando a divisão e modelagem.
Cilindragem em demasia:
faz com que haja um “rompimento” da cadeia de glúten, prejudicando e desbalanceando as massas. Além disso a farinha extra utilizada neste processo, prejudica a padronização do produto e implica em gasto extra não contabilizado.
Manipulação desnecessária:
divisões, boleamento, descansos, modelagens quando feitas sem critério, podem comprometer a estrutura do glúten e das massas e a estabilidade da fermentação.
Fermentação em temperatura ambiente:
os pães quando sujeitos a condições ambientais sem controle, sofrem com fermentação acelerada ou longa demais, além de perderem sua umidade (peso e qualidade).
Como favorecer uma boa formação da rede de glúten?
Armazene a farinha adequadamente:
consulte o fornecedor e levante todas as condições necessárias para um bom armazenamento.
Utilize água gelada e gelo em flocos:
considere o investimento em resfriadores de água e se possível, o uso de gelo em flocos no preparo.
Amassadeiras:
os modelos espirais
são uma ótima opção pois podem promover até 2% a mais de hidratação e diminuem o coeficiente de atrito.
Padronize o tempo de batimento:
utilize amassadeiras com controle digital de tempo na primeira e segunda velocidade.
Faça descansos conforme características do trigo, ambiente e receita:
processe a massa nos tempos ideais e não a deixe exposta sobre a mesa.
Cilindro
na medida certa:
permite “alinhar” a rede de glúten, deixando a massa lisa, favorecendo a divisão e modelagem e um miolo ou “biga” mais fechado e uniforme.
Invista em câmaras de controle de fermentação
:
fornecem temperatura e umidade conforme sua necessidade e ainda automatizam e humanizam sua produção.
Importância da hidratação da farinha
Não só a água no glúten garante um bom ponto de massa, mas sua capacidade de absorção pela farinha como um todo, impactando diretamente no rendimento e qualidade dos produtos assim como na rentabilidade e lucratividade do empreendimento.
Por tratar-se do insumo de maior consumo e de custo direto na panificação, é preciso garantir que seu aproveitamento seja máximo, sem desperdícios, buscando conhecimentos, técnicas, processos, tecnologias e equipamentos que favoreçam atingir este patamar.
Mesmo o uso de farinhas importadas de altíssima qualidade, os cuidados desde a sua compra, transporte, armazenagem, hidratação
e batimento na amassadeira assim como divisão modelagem e fermentação, é o que garante o máximo de seu desempenho e aproveitamento.
Conclusão
Em suma, o glúten é um “grande aliado” da panificação, desde o início do processo até o consumidor final. Entender sobre seus princípios como ele impacta na produção, é um requisito para todos os profissionais da área.
Da mesma forma, a busca por desenvolvimento continuado, pesquisa, leitura e estudo, é o que permite compreender melhor os produtos e processos. Por fim, veja nosso conteúdo especial: “Amassadeira: como escolher a ideal para sua produção?”
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