Gastronomia molecular: Mara Pontes explica o tema

Prática • nov. 12, 2021

Você já pensou em como a cozinha pode ser complexa e proporcionar experiências marcantes para os clientes? A gastronomia molecular é uma proposta interessante que modifica percepções originais de diversos alimentos e bebidas, valorizando os princípios científicos durante o preparo de receitas.

Quer entender melhor como funciona a técnica e como ela é empregada nos restaurantes: Conversamos com Mara Pontes, mestra profissional em gestão de alimentos e bebidas, para entender melhor sobre o assunto. Confira nosso papo.  

Prática: O que é gastronomia molecular?

Mara: Podemos dizer que o papel da Gastronomia Molecular é entender o que acontece na cozinha, seus princípios físico-químicos, e a partir desse entendimento, controlar todos os processos, de modo a conseguirmos os melhores resultados, transformando o alimento conforme a necessidade do mercado ou a demanda do Chef.

Prática: Quando ela começou a ser utilizada?

Mara: É difícil dizer. Quando se percebeu, por exemplo, que, ao colocar a maçã cortada com suco de limão, ela deixava de ficar preta. Isso é o uso da gastronomia molecular, ainda sem seu entendimento, mas é o uso da química. 

O que hoje fazemos é entender que o ácido, e não só o limão, evita a oxidação. Em 1794, Benjamin Rumford começou a perceber as vantagens das aplicações das descobertas científicas e mecânicas à melhoria da gastronomia. Mas somente em 1988 surgiu o termo Gastronomia Molecular em Física, com Nicolas Kurt e Hervé This.

Prática: Qual a aplicabilidade da gastronomia molecular ?

Mara: Em tudo que se cozinha, em todos os lugares e todos os dias. O que se faz na cozinha, normalmente, é o uso regular de aprendizado de tentativas e erros, observações, sem todo o seu entendimento – veja que dessa forma, não é preciso, necessariamente, saber o que acontece na cozinha para se cozinhar. 

O que essa ciência fez foi isolar os elementos. Dessa forma, se é o ácido do limão que evita a oxidação da maçã, a molecular vai utilizar o ácido cítrico. Mas isso, ficou muito mais interessante, quando se adicionou, a parte de equipamentos. Isso facilitou e viabilizou muito a produção controlada dos processos.

Prática: Quais são as inovações da gastronomia molecular, comparada com a gastronomia tradicional?

Mara: Bem, antigamente não se carbonatava um creme de leite, hoje temos um sifão e conseguimos carbonatar de tudo, inclusive massa de bolo. Os fornos combinados, são um exemplo do entendimento da panela, chapa e forno.

Temos os aditivos hidrocolóides, que conseguem geleificar líquidos que a gelatina não conseguia. Os amaciamentos químicos, embalagens com atmosfera modificada, métodos de cocção sem qualquer tipo de conservante. 

As inovações são inúmeras, ela está no nosso dia a dia, mas precisamos entender o processo produtivo para percebermos essas inovações. Pense, que a panela de pressão é um equipamento moderno, mas que se tornou de uso comum, antes, fazíamos um processo parecido, o barreado.

Prática: Quais as principais técnicas e ingredientes empregados?

Mara: Agora você me pegou. Os alginatos para a esferificação são os elementos mais chamativos, mas que aqui no Brasil, não se tornaram tão comuns como aconteceu no mundo afora. Na ásia, por exemplo, fazer macarrão com eles é muito comum. 

A carbonatação, uso de isomalte, nitrogênio líquido ou a maltodextrina, são alguns dos aditivos mais utilizados. A confeitaria se beneficiou muito com isso, pelo número dos hidrocolóides disponíveis hoje no mercado.

Prática: Quais os exemplos mais criativos do uso da gastronomia molecular que você pode trazer para nós?

Mara: Acho que comer, tem que ser uma experiência. E a molecular consegue trazer uma surpresa a mais, um acréscimo na experiência. A mixologia vem se aproveitando muito dessas técnicas e é o que mais se encontra no Brasil hoje. 

Quando o sous vide chegou no mercado, foi um grande marco, mas hoje, comemos carne feita nesse processo, em restaurantes que não pregam ou divulgam a molecular, mas servem normalmente.

Prática: Como o nitrogênio é empregado na gastronomia molecular?

Mara: Fazer sorvete na frente do cliente é um espetáculo. Ele possibilita shows, como ralar um ovo, uma fruta, a separação dos gomos de uma amora ou framboesa. Outra possibilidade, e a que eu acho a mais divertida, é o congelamento de produtos que normalmente não se congelam, como gordura ou bebidas com alto teor alcoólico. 

É possível também, trazer a experiência do creme brulé, quando é possível congelar somente a parte externa de um líquido, deixando o interior descongelado. É um elemento para show e deve ser servido o quanto antes.

Prática: Quais dicas podemos dar a quem deseja começar a se aventurar nesse ramo?

Mara: Acredito que a primeira coisa é entender que cozinhar depende muito de treino e de estudo. Para um bom desempenho neste e em qualquer cozinha, é fundamental o entendimento do que está acontecendo. 

Cozinhar é química, física e bioquímica. Quando entendemos o que está acontecendo, é que podemos criar e modificar o prato que estamos executando. E no início, quando começamos nossas experiências é que percebemos a necessidade do estudo. 

A precisão e proporção que normalmente não visualizamos em qualquer receita, agora vai ser indispensável. Gosto mais de chamar essa cozinha, em vez de molecular, de “Pensante”. Essa é uma cozinha para quem gosta de pensar, se arriscar e criar – sair da caixinha, como se diz.

Prática: Como é a sua carreira na gastronomia molecular? Quais experiências já teve?

Mara: Bem, como disse, sempre fui do tipo que procurava entender o que estava acontecendo na cozinha, para que pudesse entender o que estava errado. E logo de início, percebi que o erro em uma série de receitas é a proporção ou quando se altera algum ingrediente, o entendimento de sua função ou estrutura para uma adaptação mais profunda. 

Mas se quer saber quando comecei a estudar essa disciplina, foi por volta do ano 2010 (não conte os anos!). No início, foi muito complicado, as “químicas” tinham que ser importadas. 

Além disso, fora do país, se tem o controle de todos os produtos, como o tipo de pectina, bloom do agár agár, etc. Essas informações não temos aqui. 

Mas quando se faz um experimento, e ele dá certo, é muito engraçado. Se sabe toda a teoria e mesmo assim, a gente não acreditava que daria certo.

Prática: Como você imagina que será no mercado nacional a gastronomia molecular em 5 anos?

Mara: Ela deve se desenvolver, principalmente na parte de tecnologia. Ela não vai ter esse nome ou clima de superprodução. Ela deve ser algo que fazemos no nosso cotidiano. Vai possibilitar uma alimentação melhor, de qualidade e sem desperdício.

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O design é uma disciplina que envolve a criação, planejamento e execução de soluções para resolver um problema ou atender a uma necessidade específica. Ele abrange uma ampla variedade de campos e pode ser aplicado a produtos, serviços, ambientes, comunicações e interações. Não se limitando apenas à estética visual, embora isso seja uma parte importante. Ele também considera a funcionalidade, usabilidade, ergonomia e a experiência geral do usuário. O processo geralmente envolve a pesquisa, concepção, prototipagem, testes e implementação. Ele está em diversos aspectos da vida cotidiana, desde a embalagem de produtos que compramos até a interface de aplicativos que usamos e ele pode ser também aplicado nas padarias. Confira nosso conteúdo a seguir e aprenda mais sobre o assunto. Quais os princípios do design? Equilíbrio Simétrico: Distribuição equitativa de elementos de forma semelhante de ambos os lados de um eixo central. Assimétrico: Distribuição equilibrada de elementos visuais sem depender da simetria. Contraste Criação de diferenças visuais entre elementos, como cor, tamanho, forma ou textura, para destacar ou enfatizar. Alinhamento Posicionamento cuidadoso de elementos para garantir uma disposição ordenada e organizada. Repetição Utilização de padrões repetitivos para criar consistência e coesão visual. Ênfase Destaque de elementos importantes para chamar a atenção do espectador. Proporção Relação harmônica entre diferentes partes de um design, contribuindo para uma estética equilibrada. Hierarquia Organização visual de elementos para indicar a importância ou a ordem de leitura. Espaço Gerenciamento eficaz do espaço negativo e positivo para melhorar a legibilidade e a compreensão. Simplicidade Eliminação de elementos desnecessários para criar designs claros e diretos. Coesão Relacionamento visual entre elementos para garantir que o design funcione como uma unidade integrada. O Design aplicado às padarias Ao contrário do que se pensa, estas técnicas não se reservam apenas a projetos de grandes arquitetos mas podem ser perfeitamente aplicadas a todos os negócios e tanto a sua identidade quanto Atração Visual: quando bem pensado pode atrair a atenção, tornando a padaria mais convidativa e aumentando o potencial de atração de novos clientes. Identidade Forte: uma aplicação consistente com logotipos, esquemas de cores e outros elementos que distinguem a padaria no mercado. Experiência do Cliente Aprimorada: um design cuidadoso não se limita apenas à estética, mas também à experiência geral do cliente. Facilidade de Navegação: facilita a navegação dos clientes pela padaria. Isso pode resultar em uma experiência de compra mais agradável e eficiente. Destaque de Produtos: pode ser usado para destacar produtos específicos, promovendo itens. Isso pode influenciar as decisões de compra dos clientes. Credibilidade e Profissionalismo: quando bem executado transmite uma imagem de profissionalismo e atenção aos detalhes, o que pode aumentar a credibilidade. Diferenciação no Mercado: a aplicação eficaz dos princípios pode diferenciar a padaria de seus concorrentes, ajudando-a a se destacar e conquistar uma parcela do mercado. Comunicação Eficaz: sinalizações claras e comunicação visual, facilitam a transmissão de informações, promoções e ofertas especiais. Cuidados com design na padaria Excesso de móveis Estes não devem comprometer o espaço e a circulação dos clientes, e no caso de mesas e cadeiras, devem ser suficientes para acomodá-los. Paisagismo Se há uso de plantas e jardins naturais, estes devem ter rega, limpeza e manutenção constante para permanecerem bonitos. Uso de buffets Estes não devem "roubar" espaço e não prejudicar a circulação. Precisam ser dimensionados conforme a demanda e variedade do cardápio. Mesas e cadeiras extras Havendo falta, reavalie o espaço, remova itens e outros móveis, e disponibilize local para mais destas. Afinal, o cliente é mais importante. Manutenção de fachada Faça limpeza e manutenção periódica da fachada. Iluminação, comunicação visual, contatos, tudo deve estar visível. Exposição de materiais embaixo do balcão Embora possa ser visto como economia e aproveitamento de espaço, prefira manter materiais e embalagens guardados. Iluminação O propósito desta é tornar seu ambiente e produtos visíveis. Reveja o uso desta como decoração. Ademais, ela consome energia elétrica também. Tente usar mais luz natural nos seus projetos. Fotos e imagens Todas as fotos de produtos e decorativas devem estar em bom estado e atualizadas. Dê preferência às de seus próprios produtos. Freezers e geladeiras Devem estar posicionados estrategicamente aos produtos relacionados e ser suficientes para os produtos desejados. Itens e elementos decorativos Devem estar de acordo com o estilo do estabelecimento e não em excesso, desviando a atenção de seus produtos. Os sazonais devem ser removidos assim que passarem as datas comemorativas. Conveniência Concentre-se em itens que vendem juntamente com seus produtos e atendam à demanda dos clientes. Pisos Fique atento ao tipo, limpeza diária e conservação. Sempre que houver danos, programe a manutenção ou troca. Vitrines Estas precisam ser suficientes para variedade de produtos e repostas continuamente. Vitrine vazia não vende. Foco no produto O foco é a venda do que é produzido na padaria. Evite produtos e serviços que não complementem ou não vendam seus produtos. Frente de loja Um conceito que tem auxiliado as padarias, confeitarias e outros empreendimentos do ramo de alimentação é o uso de fornos vitrine na área de vendas. O objetivo desses equipamentos é assar produtos em menor quantidade, mas constantemente e com variedade. Dessa forma, seus clientes verão que há produtos frescos saindo a todo momento, e o aroma de pão é irresistível. Além disso, muitas pessoas desconhecem a fabricação do pão e, mesmo para aqueles que já conhecem, é muito atrativo, e sua padaria certamente chamará a atenção. Outro ponto positivo é que ao assar produtos em menores quantidades, eles se mantêm frescos e ocorre menor desperdício por itens que são assados além do necessário. Sobram, perdem a qualidade gradativamente e, depois, devem ser descartados. Conclusão Em síntese, ao considerarmos a importância do design nas padarias, compreendemos que a estética e a funcionalidade desempenham papéis cruciais na atração e fidelização de clientes. Desde a disposição dos produtos até a escolha de equipamentos como fornos vitrine, o design influencia diretamente na experiência do consumidor. A harmonia visual aliada à praticidade operacional não apenas agrega valor à padaria, mas também cria uma atmosfera convidativa. A implementação cuidadosa do design não só destaca a frescura e a variedade dos produtos, como também reduz desperdícios, promovendo a sustentabilidade no processo. Assim, ao reconhecermos a relevância do design, as padarias não apenas aprimoram seu apelo estético, mas também otimizam operações, conquistando clientes e assegurando um espaço distintivo no mercado gastronômico. E agora que tal aplicar os mesmos conceitos com na exposição de produtos? Clique aqui e veja nosso conteúdo sobre o vitrinismo. 
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